Publicado originalmente em 1983, o livro Intencionalidade, do filósofo norte-americano John R. Searle, é uma das obras mais influentes da filosofia da mente e da linguagem contemporânea. Nesta obra, Searle se propõe a elaborar uma teoria sistemática da intencionalidade, conceito central para a compreensão dos estados mentais e da relação entre mente e mundo. A edição da Coleção Tópicos, organizada com foco didático, traz ao leitor brasileiro uma versão acessível de um texto filosófico complexo e profundo.
A palavra “intencionalidade”, no sentido filosófico adotado por Searle, refere-se à capacidade que certos estados mentais têm de se referir a, ou serem “sobre”, coisas no mundo — como crenças, desejos, percepções, esperanças, entre outros. Diferentemente da noção comum de “intenção” (como querer fazer algo), a intencionalidade é, para Searle, a marca distintiva do mental.
Ao longo do livro, o autor articula uma crítica às abordagens reducionistas ou exclusivamente formais da mente, especialmente aquelas propostas por correntes behavioristas ou computacionalistas. Em vez disso, ele defende que a mente possui propriedades biológicas e fenomenológicas que não podem ser plenamente explicadas apenas por modelos funcionais ou sintáticos.
Um dos pontos centrais da obra é a distinção entre:
Intencionalidade derivada (como as palavras ou representações simbólicas, que têm sentido apenas por convenção ou atribuição), e
Intencionalidade intrínseca (aquela própria dos estados mentais, que possuem conteúdo por si mesmos).
Searle também explora a relação entre linguagem e mente, mostrando como os atos de fala e os significados linguísticos estão profundamente enraizados na estrutura intencional da consciência. Em outras palavras, ele procura mostrar como a linguagem não é apenas um sistema de sinais, mas uma extensão das capacidades mentais humanas.
A obra exige atenção e familiaridade com conceitos da filosofia analítica, mas a edição da Coleção Tópicos contribui para tornar o texto mais acessível, oferecendo notas e uma introdução contextualizadora.