Dogs, do fotógrafo britânico Tim Flach, é muito mais do que um livro sobre cães — é uma obra de arte visual que investiga, com sensibilidade e apuro estético, a relação entre humanos e seus companheiros caninos. Através de retratos meticulosamente compostos, Flach captura não apenas a impressionante diversidade física entre as raças, mas também expressões que parecem carregar emoções humanas, como curiosidade, serenidade, tristeza e alegria.
Cada imagem é carregada de intenção: o enquadramento, a iluminação e o fundo são escolhidos para destacar o que há de mais marcante em cada cão — seja a elegância de um afegão, o olhar sonhador de um golden retriever ou a estranheza fascinante de um cão sem pelos. Mas o que realmente se impõe ao leitor não é apenas a beleza estética das fotografias, mas o modo como Flach sugere, sutilmente, que os cães são espelhos das nossas próprias naturezas. Ele não os retrata como meros animais, mas como indivíduos, cada um com uma personalidade própria, quase como personagens de uma narrativa silenciosa.
O livro também propõe uma reflexão sobre a domesticação e o papel dos cães na cultura humana. Ao apresentar raças moldadas ao longo dos séculos por critérios estéticos, funcionais ou simbólicos, Flach nos convida a pensar sobre os limites entre o amor e o controle, a admiração e a manipulação. Há uma tensão discreta entre a celebração da beleza canina e a estranheza de algumas formas extremas, produto de cruzamentos intensivos.
Apesar de não ser um livro técnico ou informativo no sentido tradicional, Dogs é profundamente educativo em sua proposta sensorial e estética. Ele nos faz olhar para os cães de modo diferente — não como figuras previsíveis do cotidiano, mas como criaturas com presença, expressão e até uma certa dignidade. É uma obra que emociona e fascina, especialmente para amantes de fotografia, arte e, claro, de cães.
Em síntese, Dogs é uma ode visual ao companheirismo entre humanos e cães, um livro que encanta os olhos e provoca o pensamento. Tim Flach consegue o raro feito de unir beleza, emoção e crítica sutil em um trabalho que é, ao mesmo tempo, galeria, ensaio e homenagem.