O filme "Getúlio" (2014), dirigido por João Jardim e protagonizado por Tony Ramos, é um drama político que retrata os últimos dias de vida do presidente Getúlio Vargas, antes de seu suicídio em 24 de agosto de 1954. Longe de ser uma cinebiografia convencional, o longa opta por um recorte preciso e tenso: os cerca de 19 dias que antecedem a morte do líder, num ambiente de crescente pressão política, militar e emocional.
A narrativa se passa quase inteiramente no Palácio do Catete, sede do governo à época, e funciona quase como um thriller psicológico e político. Getúlio está cercado por denúncias, pressões da imprensa e ameaças da alta cúpula militar, especialmente após o atentado ao jornalista Carlos Lacerda, no caso que ficou conhecido como o “crime da rua Tonelero”. À medida que o cerco se fecha, o filme foca nas relações entre Getúlio, seus assessores, sua filha Alzira (vivida com força por Drica Moraes) e seus adversários.
Tony Ramos entrega uma atuação contida e impactante. Ele constrói um Getúlio introspectivo, hesitante e profundamente humano — alguém que carrega o peso de um legado contraditório: ao mesmo tempo o “pai dos pobres” e um governante acusado de autoritarismo. O filme evita idealizações fáceis, mostrando o personagem em conflito consigo mesmo, preso entre a pressão de renunciar e a tentativa de preservar a própria imagem histórica.
A direção de João Jardim é elegante e respeita o ritmo lento e opressivo dos acontecimentos. Os ambientes fechados, o uso de luz baixa e os diálogos carregados de tensão contribuem para criar um clima sufocante, que reflete bem o isolamento crescente do personagem principal. A trilha sonora é discreta e a reconstituição de época, cuidadosa, sem excessos estéticos.
Mais do que contar a história de um presidente, "Getúlio" propõe uma reflexão sobre os bastidores do poder e a fragilidade dos líderes diante das forças políticas e institucionais que os cercam. O filme é eficaz ao mostrar como a história pode se mover não só por grandes atos, mas também por hesitações, silêncios e pressões invisíveis.
Como DVD, a edição traz boa qualidade de som e imagem, e em algumas versões, há extras como entrevistas com o elenco e o diretor, que ajudam a contextualizar ainda mais o projeto. É um filme sóbrio, bem conduzido, que equilibra fidelidade histórica com densidade dramática. "Getúlio" é, portanto, uma obra relevante e madura, que trata com seriedade e nuance um dos momentos mais dramáticos da história política brasileira.