Esta interpretação de Kant foi escrita logo após os debates de Davos com Ernst Cassirer, em 1929, e com base em um curso ministrado em 1925-1926. Ela obedece a um duplo objetivo: afastar-se da interpretação neokantiana então dominante, da qual Ernst Cassirer era a figura mais eminente, mas, sobretudo, dar continuidade à tarefa kantiana de uma crítica da metafísica.
Nesta edição, encontra-se em anexo os elementos da discussão com Cassirer, publicados pela primeira vez em francês. Eles esclarecem o contexto do debate, ao mesmo tempo que revelam seus desdobramentos no campo da antropologia e da filosofia da cultura.
A interpretação de Kant proposta por Heidegger, extremamente minuciosa, baseia-se na primeira edição da Crítica da Razão Pura, em que Kant destacou o papel fundamental da imaginação, posteriormente submetida, na segunda edição, ao controle do entendimento, restringindo-se, assim, em favor de uma teoria do conhecimento. Heidegger, ao contrário, busca aprofundar a função primordial da imaginação na apreensão da ontologia fundamental, além de toda metafísica, sem privilegiar mais as justificações da física e da matemática.
Ele pretende demonstrar que a crítica da razão apoia-se, ela mesma, em uma situação prévia: a relação com o ser, que condiciona toda relação com o mundo. O entendimento, a experiência e os conceitos abrangem apenas uma parte das atividades do pensamento, enquanto a imaginação abre um campo muito mais vasto para seu exercício.