La Parure (em português, A Joia ou O Colar), conto de Guy de Maupassant publicado pela primeira vez em 1884, é uma narrativa curta e cortante que examina as ilusões da vaidade e os rigores da condição social com uma precisão quase cruel. Em poucas páginas, Maupassant constrói uma tragédia silenciosa, irônica e amarga, centrada na figura de Mathilde Loisel, uma mulher de classe média que vive eternamente insatisfeita com sua posição social modesta e sonha com uma vida de luxo e refinamento que, na realidade, nunca lhe pertenceu.
A história começa com uma caracterização precisa de Mathilde, uma mulher bela, mas casada com um modesto funcionário público. Embora tenha uma vida estável, ela se sente constantemente deslocada, como se tivesse nascido para os salões aristocráticos e para os vestidos caros. Quando surge a chance de ir a um baile elegante, Mathilde convence o marido a gastar economias para comprar um vestido novo, mas falta-lhe uma joia que combine. Pede então à amiga rica Madame Forestier que lhe empreste um colar de diamantes. Com ele, Mathilde brilha na festa e vive por uma noite o sonho que sempre desejou. No entanto, ao chegar em casa, descobre que perdeu o colar.
A partir daí, o conto assume um tom sombrio e implacável. Mathilde e o marido, incapazes de confessar a perda, decidem substituir o colar por outro idêntico, endividando-se pesadamente. Durante dez anos, vivem na mais dura miséria para pagar a dívida. O contraste entre a breve noite de luxo e os anos de sacrifício é devastador. Ao final, em um golpe final de ironia que consagra o conto como uma das grandes peças do realismo francês, Mathilde encontra Madame Forestier e revela a verdade. É então que descobre que o colar emprestado era falso — uma bijuteria de pouco valor.
A força de La Parure está em sua concisão e no olhar impiedoso sobre as aspirações sociais. Maupassant critica a sociedade da aparência e a vaidade que leva à ruína, mas o faz sem pregação moralista — ele simplesmente expõe os fatos e deixa que a ironia do destino fale por si mesma. A prosa é direta, elegante e precisa, e o desfecho — um dos mais célebres da literatura francesa — é um exemplo clássico da ironia trágica.
La Parure é, em última análise, um retrato comovente e sarcástico da ilusão social, onde o desejo de parecer vale mais que o de ser, e onde uma escolha baseada na aparência destrói uma vida inteira. É um conto que permanece relevante, talvez ainda mais em tempos de culto à imagem, e que evidencia o talento de Maupassant para revelar, em pequenas tragédias cotidianas, as grandes contradições humanas.