Publicado pela primeira vez em 1857, Les Fleurs du Mal (As Flores do Mal) é uma das obras mais marcantes da poesia moderna e uma verdadeira revolução estética e temática dentro da literatura ocidental. Escrita por Charles Baudelaire, poeta francês de espírito inquieto e sensibilidade aguçada, a coletânea mergulha nas profundezas da alma humana, nos prazeres e nas dores da existência, na beleza e na decadência, sempre com uma linguagem requintada, melancólica e sensual.
O título já anuncia o paradoxo que atravessa todo o livro: flores que nascem do mal, ou seja, a tentativa do poeta de extrair beleza e poesia dos aspectos mais sombrios da vida — o tédio, o vício, o desejo, a morte, a solidão, a transgressão. Ao longo dos poemas, Baudelaire conduz o leitor por uma jornada emocional e espiritual que começa com a angústia existencial, passa por êxtases sensoriais e culmina num flerte constante com a morte, sem nunca perder o tom de uma lucidez dolorosa e cínica.
A obra é dividida em seções que formam quase um percurso simbólico: da decadência à possível redenção, passando por "Spleen et Idéal", onde o poeta alterna entre o cansaço do mundo (spleen) e o desejo de pureza (ideal); "Tableaux Parisiens", onde capta a alma da cidade moderna e sua multidão indiferente; "Le Vin", com poemas sobre o refúgio no álcool; "Fleurs du Mal", com temáticas de sensualidade e culpa; "Révolte", de tom satânico e desafiador; e "La Mort", que fecha o livro como um apelo ao esquecimento ou à transcendência.
Baudelaire foi perseguido pela censura e pela moral da época, e seis poemas da primeira edição foram retirados por serem considerados ofensivos. Mas é justamente essa tensão entre forma refinada e conteúdo perturbador que faz de Les Fleurs du Mal uma obra tão poderosa. A musicalidade impecável dos versos, o uso sofisticado de imagens sensoriais e metáforas, e a permanente ironia são características que influenciaram toda uma geração posterior de poetas simbolistas e ainda ressoam na literatura contemporânea.
Ler Les Fleurs du Mal hoje é ainda se deparar com um espelho cortante da condição humana, que não idealiza o amor nem mascara a dor. Baudelaire transforma o feio em belo, o corrompido em sublime, e nos convida a contemplar as contradições da alma com um olhar lírico e implacável. É um livro que perturba, fascina e eleva — como só a grande poesia é capaz de fazer.