"O Café no Brasil" (Volume 1 e Volume 2), escrito por Rogério de Camargo e Adalberto de Queiroz Telles Jr., publicado em 1953, é uma obra de grande importância para a compreensão histórica, econômica e social do ciclo do café no país. Trata-se de uma pesquisa minuciosa e profundamente embasada, que analisa o impacto do café como o principal motor da economia brasileira durante os séculos XIX e XX.
No Volume 1, os autores se dedicam a reconstruir a história da cultura do café no Brasil desde suas origens. Eles traçam a trajetória da introdução da planta no território nacional, passando pela expansão nas regiões sudeste — especialmente no Vale do Paraíba e depois no oeste paulista — e analisam como o café não apenas transformou o cenário agrícola, mas também impulsionou mudanças na estrutura fundiária, no mercado de trabalho e na formação das cidades. A narrativa é bastante detalhada, fundamentada em dados históricos e estatísticos, e discute, por exemplo, a transição do trabalho escravo para o imigrante europeu nas lavouras. Há um cuidado notável em mostrar como o café moldou o Brasil rural e urbano, influenciando até o surgimento de uma burguesia cafeeira que teria um papel central na política do Império e da Primeira República.
O Volume 2 amplia o escopo para tratar dos aspectos econômicos e mercadológicos da produção cafeeira. Há uma forte ênfase nas dinâmicas de exportação, na flutuação dos preços internacionais, nas políticas públicas — como o Convênio de Taubaté de 1906 —, e no papel do café nas relações diplomáticas do Brasil com o mundo. Rogério de Camargo e Adalberto de Queiroz Telles Jr. fazem uma análise crítica do que chamam de “política do café com leite”, examinando como os interesses dos grandes produtores influenciaram decisivamente o cenário político nacional. Além disso, o livro discute os problemas de superprodução, as tentativas de regulação do mercado e os reflexos internos da crise mundial de 1929, que afetou duramente a economia baseada na monocultura.
A linguagem dos volumes é técnica, mas ainda acessível para leitores com alguma familiaridade com história econômica. Não se trata de uma obra com foco literário ou narrativo, mas de um estudo sério e documentado, que combina elementos históricos, sociológicos e econômicos. É uma leitura fundamental para quem deseja entender a fundo o papel do café na formação do Brasil moderno — não apenas como produto agrícola, mas como força estrutural da vida política, social e econômica do país.