A prosa precisa e versátil de Paulo Henriques Britto já é bem conhecida pelo leitor brasileiro. Tradutor de excelência das grandes obras da literatura de língua inglesa, seu nome é indispensável em qualquer estante respeitável. No universo da poesia, sua maestria foi reconhecida com o Prêmio Portugal Telecom de Literatura, um dos mais prestigiados do país.
Agora, em Paraísos Artificiais, sua estreia na ficção, Britto reafirma seu talento ao construir um universo próprio, marcado por uma prosa cristalina que, apesar da aparente leveza e fluidez, não hesita em capturar e expor seus temas com precisão cirúrgica. Seja ambientado na metrópole, em terras estrangeiras ou na provinciana São Dimas, cada conto deste volume mergulha em situações extremas—desde uma doença sem nome até um simples ônibus errado—e encontros constrangedores, quase sempre entre o protagonista e suas próprias contradições.
Os pretextos podem ser mínimos, até banais, mas os dilemas que surgem são tudo, menos triviais. Em contos já memoráveis como Uma visita, Um criminoso e O primo, Britto conduz seus personagens a confrontos implacáveis consigo mesmos, revelando suas fragilidades, medos e covardias. O volume se encerra com Os Sonetos Negros, uma novela deliciosa e irônica ao estilo de Henry James, narrada como um diário de viagem que desmonta certezas, questiona o politicamente correto e expõe um jovem estudante às armadilhas e surpresas da vida e da literatura.