Live Kisses é um registro ao vivo que mostra um lado mais intimista, elegante e nostálgico de Paul McCartney, longe das guitarras do rock e próximo da tradição dos grandes crooners americanos. Gravado em 2012 nos estúdios da Capitol Records, em Los Angeles — o mesmo local onde nomes como Frank Sinatra e Nat King Cole deixaram sua marca —, o especial captura McCartney reinterpretando canções clássicas do cancioneiro popular dos Estados Unidos, em sua maioria tiradas do álbum Kisses on the Bottom.
A proposta é simples, mas profundamente afetiva: McCartney presta uma homenagem aos standards de jazz e pop das décadas de 1920 a 1950, músicas que ele ouviu na infância e que ajudaram a moldar seu senso melódico muito antes dos Beatles existirem. Acompanhado por um grupo de músicos refinados — incluindo Diana Krall e sua banda, além de participações discretas e precisas como a de Joe Walsh na guitarra — McCartney canta com suavidade e cuidado, adotando um tom mais contido e emocionalmente contido do que o habitual.
Em Live Kisses, o foco está completamente na interpretação. McCartney, conhecido por sua potência vocal e versatilidade, opta aqui por uma abordagem mais sussurrada, respeitosa às canções que revive. Ele não tenta modernizá-las nem se impõe sobre elas; ao contrário, as veste com leveza e devoção. Isso fica evidente em faixas como “My Valentine” — a única composição original do repertório, escrita por ele mesmo —, que se encaixa perfeitamente entre clássicos como “It’s Only a Paper Moon” e “Always”.
Visualmente, o especial tem uma estética suave e atemporal, filmado em preto e branco com uma direção discreta que valoriza a atmosfera do estúdio e o clima de intimidade. É como estar em uma sala junto a músicos que não estão tentando impressionar, mas sim se conectar com o sentimento da música. A ausência de público, inclusive, reforça essa sensação de ensaio privado ou sessão íntima — o oposto de um show convencional.
Live Kisses não é um espetáculo pirotécnico nem um exercício de nostalgia rasa. É um gesto de carinho, uma celebração das raízes musicais de McCartney e da riqueza de uma era em que a canção era o centro de tudo. Para quem espera o Paul roqueiro ou beatlemaníaco, talvez esse não seja o momento mais empolgante. Mas para quem deseja ver um artista maduro revisitando suas inspirações com classe, vulnerabilidade e afeto, este registro é um presente sincero e caloroso — um beijo musical carregado de memória e reverência.