Calhoun Tapes: Live in Atlanta 1987 é um registro não oficial — e por isso mesmo fascinante — da fase inicial da turnê A Momentary Lapse of Reason, que marcou o renascimento do Pink Floyd sob a liderança de David Gilmour, após a saída conturbada de Roger Waters. Gravado no estádio do Calhoun, na cidade de Atlanta, o show captura a banda em um momento de transição: decidida a provar sua relevância sem seu principal letrista e conceituador, mas ainda firmemente enraizada no legado sonoro e visual que definiu o Pink Floyd como ícone do rock progressivo.
O show é grandioso e preciso, mesmo sem a aura conceitual densa dos anos 70. A banda, com Gilmour à frente, aposta na solidez técnica, na imponência do palco e na familiaridade dos clássicos. O repertório equilibra o novo material — como “Learning to Fly”, “On the Turning Away” e “Sorrow” — com hinos consagrados como “Shine On You Crazy Diamond”, “Time”, “Wish You Were Here” e um medley poderoso de The Wall. O novo álbum é bem representado e, ao vivo, as faixas ganham mais vigor e textura, aproximando-se do espírito floydiano mais do que sugerem as versões de estúdio.
Apesar da ausência de Waters, a performance é de alto nível. Gilmour, com sua guitarra lírica e seus vocais contidos, assume o protagonismo com elegância, enquanto Nick Mason e Richard Wright (de volta oficialmente à banda) mantêm o vínculo com o som clássico do grupo. A banda de apoio é extensa, com músicos e backing vocals que contribuem para um espetáculo polido, sem os improvisos perigosos de outrora, mas ainda assim potente.
Por ser um bootleg, Calhoun Tapes tem suas limitações técnicas. O áudio varia em qualidade, com momentos um pouco abafados ou distantes, dependendo da fonte da gravação, o que pode afetar a experiência para ouvintes mais exigentes. Mas isso também adiciona um certo charme documental: é como espiar por uma fresta uma era que, embora cercada de dúvidas na época, hoje é reconhecida como uma das mais visualmente marcantes da história do rock ao vivo.
Visualmente, mesmo que o DVD não tenha a sofisticação de uma filmagem oficial como Delicate Sound of Thunder, ainda se percebe a força do espetáculo: projeções psicodélicas, lasers, cenários infláveis e o famoso círculo de luzes que se tornaria assinatura dessa fase da banda. Há algo de teatral e, ao mesmo tempo, matematicamente controlado no palco — uma estética que troca o caos criativo do passado por uma perfeição visual milimétrica.
Calhoun Tapes: Live in Atlanta 1987 é, no fim das contas, um documento raro e relevante. Ele não tenta competir com os registros oficiais em acabamento, mas oferece uma visão crua e honesta de um Pink Floyd em reconstrução, onde o virtuosismo de Gilmour e a fidelidade ao legado musical mantêm viva a chama de uma das bandas mais influentes do século XX. Para fãs, colecionadores e curiosos por essa fase delicada da história do grupo, é uma peça valiosa — imperfeita, sim, mas cheia de autenticidade.