"Race Against Time: Searching for Hope in AIDS-Ravaged Africa" é uma obra poderosa e comovente escrita por Stephen Lewis, ex-diplomata canadense e Enviado Especial da ONU para o HIV/AIDS na África. Publicado originalmente em 2005 como parte das CBC Massey Lectures, o livro recebeu uma segunda edição em 2006, que inclui um pós-escrito com atualizações sobre os acontecimentos posteriores às palestras. A obra se constrói sobre cinco conferências realizadas por Lewis em diferentes cidades canadenses, cada uma focando em aspectos distintos da crise do HIV/AIDS na África subsaariana.
Com uma linguagem direta e marcada por intensa indignação moral, Lewis denuncia como as políticas econômicas globais dos anos 1980 — especialmente os programas de ajuste estrutural do FMI e do Banco Mundial — agravaram a pobreza e fragilizaram os sistemas de saúde pública, criando terreno fértil para a disseminação da pandemia de AIDS. O autor entrelaça suas experiências pessoais no continente africano, contrastando o espírito de otimismo que conheceu nas décadas de independência com a devastação social e humana causada pelo HIV nas décadas seguintes.
Um dos pontos centrais do livro é o ataque à promessa não cumprida de acesso universal à educação primária. Lewis aponta como, apesar dos discursos e compromissos internacionais, muitas crianças africanas continuaram excluídas da escola devido a "taxas escondidas" que seus pais não conseguiam pagar. O autor também trata de forma contundente o papel da desigualdade de gênero, destacando como mulheres e meninas são desproporcionalmente afetadas pela epidemia, não apenas como vítimas do vírus, mas também como cuidadoras e sobreviventes sem apoio. Ele não poupa críticas à negligência dessas questões por parte dos governos africanos e mesmo de organismos como a ONU.
Apesar da severidade de seu diagnóstico, Lewis não abdica da esperança. No capítulo final, ele propõe soluções práticas e viáveis, como a eliminação de taxas escolares, o apoio a projetos como os Millennium Villages, e o fortalecimento de pesquisas científicas para vacinas. Seu tom, ainda que indignado, é orientado por um desejo profundo de transformação e de justiça. Sua franqueza, considerada "indiplomática" por alguns críticos, é justamente o que dá ao livro seu impacto mais profundo: uma voz comprometida que recusa eufemismos diante da tragédia.
Race Against Time foi muito bem recebido pela crítica e pelo público. Recebeu o prêmio de Melhor Livro de Não Ficção do Ano pela Canadian Booksellers Association em 2006, e figurou por semanas entre os mais vendidos no Canadá. Seu valor está tanto na denúncia como no apelo ético, oferecendo um testemunho tocante e irrefutável da necessidade de ação global diante de uma catástrofe evitável.