Veredas do Meu Sertão é uma obra de forte carga afetiva e poética, que se inscreve na tradição literária brasileira de evocação da vida sertaneja com lirismo, memória e autenticidade. Trata-se de um livro que caminha entre o relato autobiográfico, a crônica e a prosa poética, revelando uma paisagem tanto externa — o sertão em sua geografia árida, luminosa e viva — quanto interna, marcada pelas experiências, afetos e lembranças do autor.
A escrita é marcada por um tom nostálgico e contemplativo. Cada capítulo — ou vereda, como sugere o título — funciona como um pequeno percurso narrativo, onde o autor retoma cenas da infância, figuras populares do interior, festas religiosas, histórias de família e elementos da cultura sertaneja com grande sensibilidade e detalhamento. Há um encantamento no modo como ele se aproxima do cotidiano: o galo cantando ao longe, o cheiro da terra molhada, a fé simples, as conversas em torno do fogão a lenha — tudo ganha contorno literário, sem perder o vínculo com a verdade vivida.
A linguagem é rica em regionalismos e expressões típicas, mas nunca inacessível. O autor escreve com uma voz que soa familiar, como a de alguém que conta causos à beira do caminho, convidando o leitor a sentar-se e escutar. Há musicalidade no texto, fruto do ritmo oral da fala sertaneja que ele preserva com cuidado. Esse compromisso com a fala do povo é uma das forças do livro: mais do que representar o sertão, ele o faz falar.
Veredas do Meu Sertão não é um tratado sociológico nem uma obra de denúncia — seu projeto é mais subjetivo e emocional. Ainda assim, oferece um retrato profundo do Brasil rural, mostrando com sensibilidade as condições de vida, os valores comunitários e os modos de resistência cultural que persistem, mesmo diante da modernidade. Nesse sentido, a obra se aproxima do espírito de Guimarães Rosa — sem imitá-lo — ao tratar o sertão como um espaço simbólico de formação e mistério.
O livro é, acima de tudo, um ato de amor à terra natal. Um retorno literário que não busca idealizar o sertão, mas resgatar sua dignidade, sua beleza e sua potência de memória. É leitura recomendada para quem se interessa pela literatura regionalista brasileira, mas também para todos que sabem que o lugar onde crescemos continua, de algum modo, a nos escrever por dentro.